Bem vindos à Mordor

Não leia se você não estiver bem.

Escrevo pra vocês diretamente de Mordor*, ou de mais um episódio do combo ansiedade e depressão. Estou nesse exato momento dentro desse espectro sombrio que eu sei que não é a vida real. Mas que de nada adianta ter consciência disso se não consigo sair daqui.

Como explicar esse lugar? Parece que é pesado, é como se o corpo carregasse um peso gigante, e tudo dá muito trabalho, até falar ou pensar. Ao mesmo tempo há uma urgência de algo que não existe, mas que não me deixa ficar parada. Eu preciso me mexer, nem que seja só uma das pernas batendo compulsivamente ou os dentes mordendo a língua.

Eu quero chorar mas também tenho preguiça, meus movimentos são lentos mas meus pensamentos são exaustivamente rápidos e pessimistas, eu quero morrer mas ao mesmo tempo tenho muito medo da morte.

Eu fico me perguntando como é ser uma pessoa normal, que não sente isso. Eu fico triste por deixar todos ao meu redor tristes também. Existe uma confusão muito grande e eu não consigo decidir o que fazer. Eu não sinto fome, eu sinto dores, eu sinto arrepios, minhas mãos suam, eu me sinto sozinha, eu quero muito chorar mas também acho que não devo.

A maior necessidade é de conversar com alguém, mas as palavras não saem. E se digo algo é tão pessimista que acaba levando a outra pessoa pra um lugar sombrio como o meu, e eu não quero fazer mal à ninguém.

Sei que tudo isso vai passar em algum momento, mas agora parece que é eterno. Saber não adianta. Até porque eu também sei que vou acabar voltando pra esse lugar muitas outras vezes ainda. Porque faz tempo que venho pra cá e não parece que alguém que já esteve aqui consiga se livrar desse umbral.

Você pode passar anos bem, mas se algo acontecer, você acaba voltando. Eu não sei porque nosso cérebro faz isso com a gente. Dizem que é um movimento de defesa, mas eu não consigo entender isso. Ou talvez seja hábito. Quanto mais você vem pra cá mais se acostuma a fazer esse caminho, e mesmo sem querer, você sempre acaba por aqui, nem precisa mais andar, é como uma máquina do tempo ou um poder de teletransporte bem fudido.

Eu sempre fico pensando se eu tomo um remédio ou não. Não gosto de tomar remédio, tenho medo de ficar dependente, de ter que tomar absolutamente todos os dias pra existir. E ter que ir sempre aumentando a dose até chegar uma hora que não existirá calmante capaz de aplacar a minha ansiedade.

Também tenho medo do remédio não funcionar, e eu perder a minha última esperança de sair desse inferno. É como se o remédio fosse a passagem de trem para fora da escuridão, mas se eu usar demais ela perde a validade, ou vai saber se o trem vai mesmo aparecer pra me tirar daqui.

Eu sinto arrepios, enjoo, dor de cabeça, desespero, tristeza e preocupação, tudo de uma vez só. Mas por fora, ninguém diz o que se passa aqui dentro. Talvez me vejam calada, com a cara fechada, mas não fazem ideia da tortura pela qual estou passando.

Eu só queria que tudo isso acabasse logo. Na verdade, eu queria nunca mais sentir isso. É tão terrível sentir isso tudo.

Já não estou mais fazendo sentido, não consigo formar frases coerentes. Vou parar de escrever agora e volto quando estiver normal.

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*Na obra de J. R. R. Tolkien, Mordor é a região ocupada e controlada por Sauron, no sudeste do noroeste da Terra Média e ao leste do Anduin, o grande rio. Orodruin, um vulcão em Mordor, era o destino da Sociedade do Anel na missão de destruir o Um Anel. Wikipédia

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Para você visitar Mordor de um jeito mais divertido recomendo que assista à trilogia do Senhor dos Anéis. Acho impossível que alguém ainda não tenha assistido, mas rever também é bem legal.

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O HOBBIT - J.R.R. Tolkien

Se você nunca leu os livros do Senhor dos anéis, sugiro que comece pelo O Hobbit, é a porta de entrada para drogas mais fortes como a trilogia que virou filme. Ou pode só ler esse mesmo, é uma obra infantojuvenil que cativa adultos desde 1937.