Brincando no cemitério
Esse é o tema principal dos meus pensamentos intrusivos nas horas de ansiedade
Cometi o erro de ler esse livro sobre luto, sabia que despertaria gatilhos, mas subestimei o monstrinho que vive dentro da minha cabeça oca. Como consequência, tive uma semana intensa de ansiedade no pico e esta newsletter, onde desabafo sem muito sentido, mas com toda a confusão que me é peculiar.
Após terminar o livro, comecei a enxergar o luto em todos os lugares, desde a entrevista da Tatá Werneck no programa do Bial até a newsletter da querida Camila Freire. Então, não havia como escrever sobre outra coisa.
O primeiro velório a que fui na vida foi o da minha avó materna. Imagino o sofrimento da minha mãe naquele dia, mas eu era apenas uma criança. Ao longo de todo aquele período de luto, fiz o que uma criança sabe fazer: brinquei. Brinquei com meus primos na casa da minha tia, brinquei com amigos no decorrer do velório e brinquei entre os túmulos no cemitério durante o enterro.
Parece que essa primeira experiência com a morte foi algo tão sereno que passei a enxergar esse ritual com tranquilidade. Com tristeza, sim, mas não com grande sofrimento.
E depois dessa, muitas outras vieram, mas nunca de alguém que me fizesse viver um luto de verdade. Para mim, a morte da minha avó, e de outros familiares e amigos, foi sempre doloroso mas leve. Só que agora não quero perder mais ninguém, pois me parece que daqui pra frente a aflição será muito maior. A verdade é que eu nunca perdi ninguém cuja falta faria um buraco enorme em minha alma. As pessoas que se foram era importantes na minha vida, mas não eram cruciais.
Talvez por eu não ser mais criança, talvez por não ter mais tanta gente assim pra perder, talvez por medo da ansiedade que já me acompanha ficar ainda pior. Meu maior medo hoje em dia é perder alguém que amo muito. Esse é o tema principal dos meus pensamentos intrusivos nas horas de ansiedade.
Também não quero morrer. Penso como as pessoas ao meu redor, especialmente minha filha, sofreriam com minha partida. Embora de fato eu não veria esse sofrimento, não sentiria. Assim, prefiro morrer do que perder qualquer um deles. Pode ser egoísta? Sim, trabalhamos com egoísmo e muita sinceridade aqui.
Olhando pra traz, com toda vida que carrego comigo hoje, não consigo me imaginar no lugar da minha mãe, não consigo me ver com a mesma força que ela teve depois da morte da minha avó.
É que ultimamente tenho me sentido tão fraca, tenho sentido tanta falta do meu eu menina, acima de tudo da falta de preocupação da vida de uma criança.
Aquela pequena corria feliz pelas vielas do cemitério porque sabia que tinha quem cuidasse dela. Só que os adultos que cuidam de você uma hora passam a precisar de cuidados, e você se vê sozinha tendo que cuidar de todos. E nesse momento, não quero perder mais ninguém, porque parece que a solidão vai ficando cada vez maior.
Ao redor da garotinha que eu era, havia muitas pessoas, mas com o tempo essas pessoas foram embora, e poucas ficaram. A sensação de perder mais alguém torna a realidade de uma cerimônia de adeus muito mais pesada do que era para alguém que tem uma vida inteira pela frente e muitos adultos saudáveis para cuidar dela. Parece que a morte vai ficando cada vez mais difícil conforme ela se aproxima da gente.
Depósito de Dicas
NEWSLETTERS
Quero indicar essas duas newsletter hoje.
A Camila é uma das pessoas que eu mais gosto de ler, uma pena que ela escreve pouco, né dona Camila?! Eu sou fã dela! E nessa edição ela fala sobre a morte de seu pai em um texto tocante e muito bem escrito, como sempre!
E também a gloriosa Ludmila, da “Meus Discos, Meus Livros” que falou um pouco sobre o livro que eu acabei de ler e que também quero indicar:
FILMES E SÉRIES
Pra juntar com a indicação de livro de hoje, indico o documentário da Joan Didion, disponível na Netflix:
LIVROS
Assim, temos todas as dicas culminando aqui:
O ANO DO PENSAMENTO MÁGICO - Joan Didion
A escrita da autora é maravilhosa, mas o livro eu achei um pouco pesado, fala do luto pela morte de seu marido e pela doença de sua única filha.
Tem post no meu diário de leitura.
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Miss, que texto bonito. Lembrei da morte de meu avô e como eu, uma criança de 6 anos, llidei com a mesma leveza que você nos contou aqui. Realmente, a gente vai ficando velha e esse medo e ansiedade em relação à morte vão tomando lugar em nós.
Uma pena o livro ter te dado gatilho e te deixado nesse estado emocional meio ruim.
Obrigada pela indicação. Tu não imagina a alegria que é ver uma news que gosto tanto me citando!
Um beijo.
A morte é muito assustadora. Eu sempre evito pensar nela rsrsrsrs.