Para ler ouvindo I Wanna Be Sedated - Ramones
Tá bom. Eu sei que o mundo não vai acabar, mas que parece, parece. Eu tenho a impressão que estamos voltando no tempo, para épocas medievais, depois de tudo que conquistamos, ao invés de irmos pra frente caminhamos para o que parece ser o fim de qualquer esperança na humanidade.
Eu estou com bastante dificuldade de encarar a realidade ultimamente. Confesso que tenho tentado fugir de tudo. Quando me atrevo a espiar por trás da cortina, fico horrorizada e logo volto para o meu esconderijo de alienação.
Não me entenda mal, não é que eu queira ignorar tudo e não fazer nada a respeito, mas eu simplesmente não tenho dado conta de lidar com isso. É mais forte do que eu. Desde a época da pandemia, quando acompanhava compulsivamente as notícias, não consigo mais assistir ao jornal por dois minutos sem sentir meu coração disparar.
Parece que é uma derrota atrás da outra. Achei que as coisas iriam melhorar com a saída daquele monstro da presidência, mas a maldade parece estar encrustada no poder e se alastrando cada vez mais, se espalhando como uma doença e transformando as pessoas em zumbis neofascistas.
O aquecimento global, PL do estupro, extrema direita tomando conta do mundo… Tudo isso me aflige e perco cada vez mais a esperança de que as coisas melhorem.
(Calma! Não desista de ler ainda, vai melhorar)
Por isso, venho tentando me alienar. Mas é muito difícil, a sede por saber é mais forte do que eu, e a revolta não me permite ficar parada e escondida.
Fico imaginando como os jornalistas conseguem. Será que eles têm alguma matéria na faculdade que ensina a ter saúde mental em meio a tanta tragédia?
Acho que o pior sentimento de todos é a impotência, porque parece que nada do que eu faço vai realmente provocar uma mudança positiva. Está muito além de mim, um passarinho não faz verão no capitalismo.
(Vai melhorar, eu juro, falta pouco!)
Quando assisto às notícias, só consigo pensar em duas coisas: desespero e vingança. Primeiro, entro em profunda angústia, sem conseguir encontrar uma solução, perdendo todas as esperanças. Depois, parto para a revanche, que é a minha parte preferida, e uso a única arma que tenho: a imaginação.
Parece que a melhor forma que encontrei pra lidar com o fim do mundo foi mesmo a alienação da imaginação, a ficção. Tanto lendo muito quanto escrevendo, mas acima de tudo, criando histórias mirabolantes na minha cabecinha atormentada.
Já criei em meus devaneios várias situações fictícias em que esses seres asquerosos que destroem nosso país recebem castigos justos. Imaginei um certo ministro do meio ambiente se perdendo na Amazônia e sendo atormentado por seres da floresta, alguns deputados tendo pesadelos recorrentes até nunca mais conseguirem dormir, ou ainda uma super-heroína ou um grupo de revolucionários tomando o país e consertando tudo, transformando o Brasil no melhor lugar do mundo.
O que me faz pensar que o tempo todo a Rosa Montero estava certa, quando ela afirma no livro “A louca da casa” que o escritor precisa escrever e publicar para sobreviver, para dar conta de lidar com sua loucura. É disso que se trata, usar a imaginação para conseguir lidar com a realidade.
Dostoiévski quando estava na prisão, o lugar mais tenebroso em que poderia habitar, escreveu uma novela luminosa e pueril chamada “Um pequeno herói”, que nada tinha de parecida com o momento real que ele vivia naquele calabouço escuro.
Parece que quando estamos vivendo os piores momentos de nossa existência, usar a imaginação para ir para lugares mais aprazíveis pode salvar nossas vidas. É possível se deslocar do concreto e alcançar vivências melhores ao imaginar e elaborar uma história.
É a alienação do imaginário e da literatura salvando nossas almas perturbadas pela realidade implacável. Já que não há muito mais o que possamos fazer, a gente sonha, e escreve. Pra fugir ou pra permanecer. Do contrário não suportaríamos estar aqui para tentar fazer a nossa mínima parte nessa batalha diária do fim do mundo.
Só assim para eu conseguir sobreviver às loucuras desse apocalipse esdrúxulo que essas pessoas inventam, revidando no único lugar possível: no imaginário. Pois a vida real está cada dia mais difícil de encarar, então, por favor, ninguém larga o devaneio de ninguém.
Depósito de Dicas
NEWSLETTERS
Acho que as duas newsletters que vou indicar hoje falam bastante sobre esse sentimento de revolta e do absurdo disso tudo!
FILMES E SÉRIES
Eu assisti essa deliciosa alienação que é Bridgerton e recomendo que você assista se sua saúde mental não estiver dando conta do mundo real, só desligue e deixe se levar por essa fantasia!
LIVROS
A LOUCA DA CASA - Rosa Montero
Falando de como a imaginação pode nos ajudar a lidar com a loucura, aqui está uma recomendação de leitura que tem tudo a ver com o assunto. É o segundo livro que leio da autora e estou apaixonada pela sua escrita, quero ler muitos outros ainda.
Tem post no meu diário de leitura.
Concordo 200% contigo Miss... Escrever hoje em dia é questão de sobrevivência e esperança! Um ato revolucionário, eu diria...🥹💛
Um pé na realidade e outro na abstração para a gente não surtar! Nossos textos dessa semana estão conversando! ✨ É angustiante ver o mundo derreter e a sensação de que não se pode fazer nada, mas os cavalos continuam correndo. Precisamos das nossas ficções para não surtar.