Escrever pra quê?
Escrevo para tentar compreender a mim mesma, reconfigurar minhas conexões mentais e dominar a escrita com a mão esquerda... Oi?
Eu mantenho um diário no Notion, sabe? Tenho muita preguiça de fazer toda a reconfiguração para mudar o ano de cada diário, então utilizo a mesma página para todos os anos. Dessa forma, sempre que escrevo, tenho a oportunidade de revisitar o que estava acontecendo no ano anterior, na mesma data. Isso é algo bastante interessante.
Este ano, sinto que estou me sentindo muito melhor (será que é porque não temos um completo idiota no poder durante uma pandemia de um vírus mortal? Talvez...). Sempre me traz satisfação poder afirmar ao meu eu do passado que, sim, tudo isso passou e estou conseguindo seguir em frente. É como se meu cérebro aprendesse uma lição de esperança todos os dias. Quando me sinto mal nos dias atuais, posso pensar que isso também vai passar, assim como grande parte da tristeza e sofrimento dos últimos anos já se foram, e agora tenho mais dias bons do que ruins.
A vida é assim, nunca está totalmente maravilhosa, nunca! Isso é impossível. Apesar de ainda não me conformar com isso, de ainda desejar profundamente um estado de paz contínua e felicidade infinita. Mas quem nunca?
Esse pensamento de dias bons e ruins tem me ajudado bastante. Ontem mesmo não estava bem, mas logo me lembrei de que isso não duraria para sempre. Tudo o que você precisa fazer é chegar até o fim do dia. "Ah, mas o dia seguinte também pode ser ruim", diz meu cérebro traumatizado e mal treinado. Pode ser, assim como o seguinte, e o seguinte após esse. No entanto, também pode ser maravilhoso e, na pior das hipóteses, mesmo que dure quatro anos, tudo eventualmente chega ao fim, ou você se acostuma e para de sofrer tanto.
Um pensamento que costumava me atrapalhar era não aproveitar os momentos bons porque sabia que também acabariam. Isso se deve ao meu pensamento disfuncional de tudo ou nada. Comigo, não existe meio-termo, é sempre uma coisa ou outra. Eu costumava pensar algo como "de que adianta estar feliz agora se algo ruim vai acontecer em breve?"
Sim, sempre acontecerão coisas ruins, mas isso deveria me motivar a aproveitar mais os momentos de alegria, em vez de simplesmente desprezá-los. Então, tenho tentado fazer isso. Quando estou vivendo um desses momentos, tento apreciá-los. Sinto uma satisfação e uma tristeza, sabendo que não durarão. No entanto, sempre concluo meu raciocínio com: "então é melhor aproveitar", e agradeço.
Desejo guardar aquele momento. E então, entendo por que os seres humanos inventaram a escrita, a fotografia, a selfie... tudo na esperança de preservar esses tipos de momentos e os sentimentos que eles despertam. E assim, escrevo um diário.
O problema de manter um diário é que, dependendo de como seu cérebro está configurado, você pode acabar escrevendo apenas para reclamar e desabafar, menosprezando as coisas boas que acontecem em sua vida. Isso só reforça cada vez mais a programação mental de que a vida é ruim e sem valor.
Não estou dizendo que desabafar em um caderno ou computador seja ruim; pelo contrário, é muito bom. Isso ajuda a organizar os pensamentos e aliviar a carga mental. No entanto, acima de tudo, ajuda a entender como você pensa, como seu cérebro está programado.
É como se as palavras escritas neste diário fossem o código-fonte de sua programação mental, e se você não está bem, provavelmente é porque esse código está cheio de erros, e você precisa reprogramar seu software.
Eu sei que fica complicado levar muito a sério essa ideia de reprogramar o cérebro devido à infinidade de vídeos no YouTube com coaches quânticos oferecendo esse tipo de coisa. No entanto, de certa forma, isso é o que acontece na terapia.
O cérebro é plástico e pode mudar, e escrever sobre nossos pensamentos e sentimentos é uma das formas de fazer isso.
Hackeando Seu Próprio Cérebro!
Nosso cérebro é programado pelas conexões entre os neurônios; a forma como essas células se comunicam influencia nossa maneira de pensar. Com o tempo, essas conexões se fortalecem e se tornam automáticas. Portanto, se você acostumou seu cérebro a enxergar o mundo como um lugar repleto de problemas, ele se tornará especialista em identificar desafios na vida para confirmar essa crença arraigada.
Para mudar esse padrão, é necessário estabelecer novas conexões e treinar seu cérebro para adotá-las, abandonando as antigas. Esse processo pode ser demorado e desafiador, mas não é impossível.
Para mim, é como um destro aprender a escrever com a mão esquerda. A dificuldade é ampliada quando você carrega uma predisposição genética para problemas mentais, o que é o meu caso (minha família é praticamente um DSM, espécie de catálogo de transtornos psiquiátricos). No entanto, é possível obter melhorias significativas fazendo as coisas certas.
Aqui está meu "algoritmo" para você tentar reprogramar seu "código-fonte":
Exercício físico - Mexer o corpo ajuda a melhorar a neuroplasticidade cerebral, tornando-a mais flexível, como amolecer a argila para fazer outra escultura.
Perceber seus pensamentos e comportamentos - Aí entra um pouco de auto conhecimento (terapia, bebê!). Perceber seus pensamentos e comportamentos é crucial. Isso envolve se dar conta de quando sua forma de pensar e agir está prejudicando você e tentar fazer diferente.
Fazer diferente - Esta é a parte mais desafiadora, pois você está acostumado ao modo automático. De novo, é como se sempre tivesse sido destro e, agora, estivesse tentando escrever com a mão esquerda. Isso exigirá um esforço considerável, e é natural que haja retrocessos. No entanto, não se preocupe, isso faz parte do processo.
O que escrever tem a ver com tudo isso?
Quando você escreve, está cumprindo duas dessas etapas: percebendo seus pensamentos e mudando eles. Você escreve como está se sentindo, lê e se dá conta de que aquilo não está te ajudando. Depois você escreve o que pode fazer pra mudar, escreve as suas vitórias, agradece pelas suas conquistas, e assim vai construindo novas conexões e ficando cada vez melhor em “escrever com a mão esquerda”.
De volta ao assunto...
Não estou aqui para oferecer autoajuda. Meu objetivo é explicar que estou passando por esse processo. Escrevo para tentar compreender a mim mesma, reconfigurar minhas conexões mentais e dominar a escrita com a mão esquerda (por assim dizer). Ainda estou em fase de aprendizado.
Este é um processo contínuo, e peço desculpas a quem lê esses textos se, por vezes, pareço contraditória. Escrevo para me entender e evoluir, então pode ser que minhas palavras pareçam confusas na maioria das vezes.
Esta newsletter é, de certa forma, uma extensão do meu diário. Espero conseguir transmitir alguma mensagem aqui, seja para mim mesma ou para aqueles dispostos a mergulhar nessas reflexões.
Obrigada por chegar até aqui, e desejo a você que hoje seja um “dia bom”! Mas se não for tão bom, lembre-se de que amanhã pode ser, ou depois de amanhã, ou em algum momento no futuro...
COISAS QUE ME FIZERAM BEM ESSA SEMANA:
FIRST OF ALL - Estou assistindo The Bear depois que muitas pessoas me indicaram, e amei demais. Pode assistir que é viciante e vai te dar muito material pra refletir e escrever.
SECOND OF ALL - O Instagram da Marina, que fala sobre escrita terapêutica. Basicamente, tudo que eu falei aqui nessa cartinha só que muito melhor.
THIRD OF ALL - Uma das coisas que mais me acalma na vida, além de cafuné, é scrapbook, ou colagem mesmo. E, a partir de agora vou sempre colocar uma fotinho aqui, mesmo que sejam ridículas. Porque já que estou sendo vulnerável é pra arregaçar mesmo. No mínimo podem ser engraçadas de tão ruins (por que eu tô me justificando tanto?)
COLAGEM RUIM DA SEMANA
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Amei toda a proposta da newsletter e a colagem: cogumelos, coruja, pra mim tem tudo a ver com neuroplasticidade, autoconhecimento e mudança.