Essa edição da newsletter estava prontinha, com uma neurose bem neurótica mesmo. Mas chegou a quinta-feira e eu pensei “não posso publicar essa coisa ridícula”.
Assim morreu um texto sobre a minha vida de dona de casa. Agora eu sou oficialmente uma assassina da escrita. Mas quem nunca desistiu de uma publicação que atire a primeira bolinha de papel amassado.
O meu sistema de redação, em geral, passa por algumas fases. Primeiro, vem a neurose, depois a ideia pra escrever. Então, eu começo a colocar as palavras no “papel” (computador). Nesse momento, eu me sinto uma gênia, a própria Clarice Lispector falando sobre suas emoções, tão engraçada quanto uma Tina Fey e inteligente feito uma Conceição Evaristo. Pode rir de mim, eu mesma estou fazendo isso enquanto escrevo e me chamo de patética.
Em seguida, vem aquela sensação de realização, de missão cumprida. Lá está uma edição quentinha para ser enviada aos queridos abençoados que foram corajosos o suficiente para se inscreverem nessa newsletter de qualidade questionável. Contudo, é nessa hora que chegam os dementadores e os nazgul, também conhecidos como pensamentos intrusivos de auto flagelo.
Apesar de eu sempre conseguir ignorar… Mentira. Eu tomo um gole de café e aperto o enviar com os olhos e o nariz fechados. Dessa vez, o rei bruxo de Angmar foi mais forte e me convenceu de que ninguém merecia ler aquelas tolices. Então, eu apaguei tudo!
Afinal, quem quer saber sobre a vida de uma dona de casa que gosta de ler e escrever? Sobre toda a crise existencial entre cuidar da filha ou ter uma carreira? Sobre a solidão, o medo, a insegurança? Sobre a possibilidade de ser abandonada ou de perder aquele que te garante o bem estar? Sobre a dependência e a culpa por depender?
Acho que aqui está a explicação de eu ter desistido de falar sobre isso: a vergonha. Eu tenho vergonha de ser dona de casa, de depender de um homem para sobreviver, de não ser uma mulher empoderada e independente. Foi por isso que eu apaguei tudo, para que vocês não me julgassem.
Tenho razões para ter a vida que eu tenho, e poderia passar uma newsletter inteira tentando me justificar, mas tudo acabaria em um lindo “preciso de terapia” e vocês me condenariam do mesmo jeito. Certamente eu já me condenei.
É tanta coisa pra elaborar que nem se eu escrevesse uma tese, um livro, uma trilogia, seria suficiente. Talvez eu ainda não esteja preparada para tanto, e nem vocês. É muita neurose para um único depósito. Não será dessa vez que eu vou conseguir escrever sobre esse imbróglio.
Ah, esqueci de contar a última etapa do meu processo de escrita. Quando eu já enviei o texto e me arrependo de ter feito isso. Eu sempre me arrependo. Aí me vem uma necessidade enorme de escrever outro logo em seguida pra “apagar” o anterior da memória do leitor. Ou seja, quando eu não estou literalmente apagando toda uma edição, eu estou desejando que as pessoas apaguem elas de suas mentes. Sensacional, não é?
E pronto, assim eu contei tudo o que estava escrito inicialmente na newsletter apagada. Não era melhor ter publicado? Não. Porque minha neurose vai além da neurose, é uma neurose², uma meta neurose, uma inception de neurose. Parabéns pra mim e pra vocês que chegaram até aqui! Agora só me resta dizer: a que ponto chegamos!!! Exclamação!!! Inception!!!
Como eu sou patética…
Depósito de Dicas
NEWSLETTERS
Foi depois de ler essa newsletter indicada aqui que me dei conta de que preciso ganhar dinheiro pra viver. Portanto, considere apoiar essa pobre dona de casa que gosta de escrever, com míseros $10,00 dinheiros por mês!
Será um incentivo pra eu continuar publicando e uma forma de eu não ir morar na rua com a minha filha depois que meu marido me abandonar ou morrer. Desde já agradeço e recomendo a leitura da querida Angela Lemos:
FILMES E SÉRIES
Aqui está um exemplo de mulher. Que conseguia ser mãe, dona de casa, ótima cozinheira, pesquisadora, apresentadora de televisão e ainda praticar Remo. Tudo isso sozinha e em plena década de 60!!! Só na ficção mesmo!!!
LIVROS
ESCREVER SEM MEDO - Jana Viscardi
Se você também já passou pelo trauma de questionar a sua escrita ao ponto de não publicar algum texto, eu recomendo essa leitura aqui. Mais sobre a obra no meu diário de leitura.
Eu já quero ler tudo tudo tudo sobre sua vida de dona de casa. Escreva já, garota!
Olha, não sei o quanto ouvir sobre as neuroses ridículas das outras pessoas te ajuda a se sentir melhor sobre a sua própria neurose (que by the way eu não acho nem um pouco ridícula, mas eu reconheço que quando a gente compara o tamanho do problema com o quanto a gente permite que ele afete nossa vida a gente vê que a *proporção* é ridícula), mas se você sente "vergonha de ser dependente" eu sinto "obrigação de salvar o mundo". Porque se existe um problema e eu sou capaz de resolver, é meu DEVER resolver. Uma espécie de "noblesse oblige": se você é "nobre" (e aqui nobre pode ser lido como qualquer coisa - tem comida em casa, teve bons pais, tem facilidade com matemática, é branca, etc.) é sua OBRIGAÇÃO cuidar dos menos favorecidos. Acontece que em algum momento isso ficou atrelado com meu senso de valor individual, então se eu NÃO resolver todos os problemas de todas as pessoas que cruzam o meu caminho e me apresentam os seus problemas então eu não sou "nobre" (e aqui nobre deve ser lido como as características que eu almejo: gentil, inteligente, capaz, BOA). E eu estou plenamente ciente do quanto isso é ridículo, mas eu preciso que a terapia me convença disso ¯\(°_o)/¯