Eu não aguento mais passar frio

O planeta está aquecendo, mas os corações humanos estão congelando

Escrevi esse texto ainda no inverno. Tá desatualizado? Tá. Mas só tenho esse, vai esse mesmo. Bjks no coração de vcs, sempre tão compreensíveis.

Todas as minhas amigas estão tristes. Não tenho mais com quem desabafar porque cada uma está passando por um problema diferente e eu não quero sobrecarregá-las. Tudo bem que eu tenho poucas amigas, então estou falando aí de três pessoas. Mesmo assim, contando comigo, já são quatro pessoas tristes ao mesmo tempo. Nem na época da pandemia e do governo do Bostonauro aconteceu isso na minha vida.

Sendo assim, vou ignorar que as pessoas estão elegendo um coach picareta para prefeito, que os oceanos estão subindo de nível e eu moro no litoral, que um gringo mimado se acha maior que um país, que somos todos explorados por empregos que pagam mal o suficiente para estarmos todos sem um puto no bolso, o recente assédio ministerial… E vou culpar o frio.

Eu odeio o inverno porque qualquer sensação desconfortável no meu corpo já me dá ansiedade. Quando eu sinto um calafrio, já acho que estou com febre, que tenho uma doença grave que já contaminou toda a minha família, e que todos nós vamos morrer.

Ah! Pro inferno com essa coisa de “as pessoas se vestem melhor”, “que tempinho gostoso para tomar um chá e ler um livro”… Não! Que tempinho gostoso para chorar deitado em posição fetal com dois edredons em cima de você e querer hibernar!

Até o neurocientista Sidarta Ribeiro teve uma experiência de uma espécie de hibernação quando chegou no inverno americano para fazer o seu doutorado. Ele relata em seu livro (que cito no fim da newsletter) que sentia muito sono e não conseguia entender o que seus colegas falavam, como se tivesse esquecido o inglês que sempre soubera. Ele se entregou ao sono durante todo o período de neve e, quando a primavera chegou, conseguiu se manter acordado e voltou a compreender a língua local. Veja bem, talvez a hibernação seja necessária em alguns casos. No meu, certamente é.

Como cientista, não podia deixar de estar fascinado por aquela sequência de eventos desde que chegou a Nova York: a falência cognitiva com sonolência excessiva e atividade onírica exacerbada durante todo o inverno, seguida de uma impressionante e súbita adaptação linguística, intelectual e social na primavera.

Além disso, outros estudiosos afirmam que, durante o inverno, dias mais chuvosos e frios provocam alterações no sono e no humor. Isso pode acontecer devido à diminuição da luz nesse período, provocando mudanças hormonais que acabam desregulando nossa cachola.

E vamos ser honestos, né? Esse frio todo não está normal, a gente sabe. Então, há mais esse elemento em uma equação que já não costuma dar um bom resultado.

Eu não aguento mais o frio, eu não aguento mais esse longo inverno de obscurantismo e esse inferno gelado. O planeta está aquecendo, mas os corações humanos estão congelando, se não de ignorância, de tristeza e desesperança. Primavera, cabe a você resolver todos os meus problemas. Dá seus pulos!

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Eu tenho uma relação um tanto quanto paradoxal com Sidarta Ribeiro, ao mesmo tempo que amo tudo que ele fala, faço tudo ao contrário do que ele recomenda. Mas você precisa assistir essa entrevista onde eles conversam sobre sonhos, sono, drogas e essas coisas que a gente adora.

LIVROS

O ORÁCULO DA NOITE - Sidarta Ribeiro

Se você gostar da entrevista já fica a dica para ler o livro dele, que eu já reli umas vinte vezes. É maravilhoso!!!

Tem post no meu diário de leitura.