O processo da coragem
Como eu levei mais de um mês (um livro da Brené Brown, uma newsletter do Thiago Ambrósio e sete canecas de café) pra ter coragem de publicar essa cartinha.
Primeira vez aqui. É noite, e eu preciso colocar a criança pra dormir, então sei que não vou conseguir passar desse parágrafo. Acho que só por isso que consegui escrever as primeiras palavras, sabia que não seriam muitas.
Segunda vez aqui. Um sábado à tarde sem muita inspiração, nem sei porque resolvi voltar a tentar escrever a primeira newsletter. É um medo tão grande de ser ridícula. São palavras pensadas e repensadas mil vezes antes de irem dos dedos pro teclado. Tudo isso por quê?
Tive uma terapeuta que dizia que eu me achava demais, que eu não era tão importante quando minhas neuroses me faziam acreditar. “Quem disse que alguém vai ler o que você escreve?” - essa sou eu tentando me convencer da minha desimportância ao mesmo tempo em que já acredito ser totalmente insignificante…
Talvez seja melhor deixar para a terceira vez…
“É incrível a quantidade de energia que gastamos tentando evitar esses territórios difíceis da alma, quando eles são os únicos que podem nos libertar.” Brené Brown
Bom, o que eu quero que seja essa newsletter? Exatamente o que estou fazendo agora, um depósito de neuroses, onde vou escrever sobre os meus pensamentos caóticos, minhas questões existenciais, reclamações sobre a vida e o cérebro defeituoso que eu recebi ainda no útero.
Espero que alguém leia esses bobagens? Sim e não. Morro de vergonha só de pensar em alguém lendo essas frases e me julgando, afirmando como eu escrevo mal, desistindo da leitura nos primeiros parágrafos, me achando uma idiota sem talento e patética. Entretanto, se eu não quisesse ser lida não publicaria, não é óbvio?
O que eu quero mesmo é que as pessoas sintam ao ler essas cartas o mesmo que eu sinto quando leio as delas: identificação e alívio. É uma sensação de amparo quando encontro um conteúdo que fala das angústias dos outros, porque não me sinto só nessa sensação de merda. Outros seres estranhos estão sofrendo como eu, a vida também não é fácil pra eles, eu não sou a única pior pessoa do mundo.
Ah, mas quem vai querer ler um conteúdo baixo astral? Não sei, só sei que eu gosto de ler sobre a desgraça alheia. Como eu disse, não me sinto tão desamparada ao encontrar outros desgraçados como eu. Fora isso, é sempre bom saber que aquele sofrimento específico não é com a gente, e agradecemos por nossos infortúnios não serem tão horríveis. A não ser, quando são. Aí você pensa “ quanta frescura! Se essa pessoa realmente soubesse o que é sofrer….”
“Nós gostamos de ver a vulnerabilidade e a verdade transparecerem nas outras pessoas, mas temos medo de deixar que as vejam em nós.” Ela de novo: Brené Brown
Entretanto, eu vou tentar não ser tão deprimente. Quem sabe consiga até fazer alguma graça… A verdade é que eu não sei como vai ser. Eu nem sei se alguém vai ler, e provavelmente, não. Esse pensamento de ninguém vai ler, acalma e entristece.
Acalma porque já que ninguém vai ler eu posso ser livre pra errar sem que haja testemunhas do meu fracasso. Por outro lado, me sentiria mais insignificante do que a minha ex terapeuta queria me fazer acreditar. Quem sabe não será esse o tema da segunda newsletter? “Ninguém me lê”
Provavelmente viraria uma série de cartas, usando #hashtag como o pessoal faz. Falando sobre todo o meu sofrimento em ser ignorada, em como ninguém gosta de mim, e por fim, como eu aprendi a lidar com isso e resolvi escrever assim mesmo, só pelo amor à escrita e pelo desabafo necessário e incontrolável.
Terceira vez aqui. Li uma newsletter que fala exatamente do que está acontecendo comigo nesse momento, acho que é porque acontece com todo mundo, ou pelo menos com a maioria das pessoas, ou talvez apenas com algumas pessoas ansiosas e perfeccionistas…
É o texto do Thiago Ambrósio, do Mercúrio em peixes, onde ele fala sobre os dois anos da sua newsletter e de como tudo começou.
a minha síndrome de anti-Sherazade por falta de nome melhor (aceito sugestões), a síndrome de quem não começa.
Não é o medo da folha/tela em branco, mas o medo de começar. Eu quase sempre entro em modo planejamento e nisso posso perder uma vida ou só o bonde da oportunidade. De onde vem isso? Acho que do perfeccionismo, da procrastinação (que também tem seus motivos) e de algo que me aterroriza: ter que mudar alguma coisa depois.
Eu também tenho a Síndrome anti-Sherazade (também não encontrei um nome melhor, desculpe), mas no meu caso não tenho medo de ter que mudar algo depois. Talvez Thiago se ache mais do que minha terapeuta (ex) achava que eu me achava… Minha questão é mesmo com o medo de falhar e de ser cruelmente julgada. Por isso já julgo a mim mesma e me condeno à falha patética e à “você nunca devia ter feito isso, sua ridícula”.
E é basicamente isso. Essas palavras vão ficar no rascunho para todo sempre, ou até o dia em que eu acorde me achando (provavelmente em algum tipo de hipomania induzida por uma quantidade exagerada de café) e aperte o botão de publicar. Portanto, se alguém estiver lendo isso agora… que vergonha! Me desculpa, foi a cafeína, muito mais efetiva do que Brené Brown e toda sua aceitação da vulnerabilidade.
Ah, sim. Quase me esqueço. Thiago também nos dá umas dicas para que não sejamos um herói preso em loop, e acho que se saiu melhor do que a dona Brown, pelo menos pra mim… E até acho que depois de umas três canecas de café eu consiga publicar essa cartinha.
Quarta vez aqui. Andei pensando e acho que realmente ninguém vai ler o que eu escrever. Eu sou devota da “Igreja Do Santo Pessimismo Que é Melhor Não Esperar Nada Do Que se Decepcionar”, portanto é com esse pensamento que vou preparar a minha caneca de café agora.
Mas antes de ir:
Que emoção! Vou deixar as minhas diquinhas. Acho tão legal as pessoas deixarem dicas no fim das newsletter e agora posso fazer isso também. Mas se ninguém vai ler minha carta… pra quem serão as dicas? … (imediatamente tenho crise existencial)
Ah, vou só fazer então um compilado de coisas que eu achei legal pra quando eu mesma quiser me lembrar de algo de bom da vida.
FIRST OF ALL: Estou lendo O Conde de Monte Cristo e amando, como sabia que iria amar pois não existe a possibilidade de um clássico ser ruim (crença funcional que eu tenho).
SECOND OF ALL: Não consegue dormir? Insônia? Seu cérebro é do “Sindicato dos Pensamentos Horríveis Assim que Alguém Deita e Fecha os Olhos”? Então, coloque essa playlist de vídeos sobre ciência ou dinossauros, que dão sono em 5 minutos. Pois são assuntos interessantes que prendem sua atenção, mas ao mesmo tempo complicados na medida certa pra você desmaiar de tédio.
THIRD OF ALL: Tem esse site aqui que eu uso pra tirar fundo das imagens, transformar fotos em aquarela de baixa qualidade, transformar pessoas em Simpsons, tudo oferecido gratuitamente por uma inteligência artificial amiga 👀 minha.
☕☕☕
Então é isso, que Eru me perdoe mas eu vou publicar. 3, 2, 1…
E se você leu essa newsletter até aqui, me dá um abraço. Eu te amo!!!
Feliz que tenha começado, você fez muito em ter dado o primeiro passo!!!
Acho que o medo não é de ser criticada, acho que o medo é ser criticado por quem a gente conhece, por isso o anonimato acaba ajudando (pelo menos comigo é assim)