Este depósito pode explodir a qualquer momento.
E não me venha com um "vixi, complicado isso aí!"
Eu percebo que minha dificuldade para escrever os textos daqui reflete diretamente minhas dificuldades em falar quando estou me sentindo mal. Meu cérebro fica tão abarrotado de pensamentos que eles simplesmente não conseguem sair pela boca.
É como imaginar uma sala extremamente cheia, onde as pessoas se aglomeram e acabam bloqueando a porta. Às vezes, todos tentam sair ao mesmo tempo, entupindo ainda mais a passagem. Eu tenho tantas neuroses sobre as quais gostaria de escrever que acabo paralisada, incapaz de produzir absolutamente nada. É como se o cérebro entrasse em pane e perdesse a capacidade de elaborar ideias compreensíveis.
O pior é que, nesses momentos, o que eu mais quero é falar, colocar para fora essa multidão que me atormenta. Mas nem sempre tenho com quem falar, ou, quando falo, sinto que as pessoas não entendem. Meu maior pesadelo é desabafar e ouvir como resposta apenas um “eita” ou “caramba”. Parece o Paul Cabannes com seu clássico “é complicado, né véi”, que soa mais como desinteresse do que empatia genuína.
Eu não espero soluções milagrosas, mas quero que me perguntem algo, que tentem me mostrar o lado bom da vida. Só não me venham com clichês como “calma” ou “falta de Deus”. De resto, estou aberta a qualquer tentativa de compreensão. O importante é que não demonstrem desinteresse.
Outro problema é o poder destrutivo das minhas próprias palavras. Não são as palavras dos outros que me preocupam, mas as que eu mesma digo. Meus pensamentos funcionam como veneno, ou armas de destruição do astral alheio. Quando falo, é como se eu visse a energia da pessoa diminuir, como o Harry Potter diante de um dementador ou Frodo perto de um Nazgul.
Por não querer ser um Lord Voldemort na vida de ninguém, acabo ficando quieta. Fecho a porta dessa sala lotada e deixo os pensamentos lá dentro, sufocando, na esperança de que desapareçam. Mas isso nunca acontece. Pelo contrário, eles se revoltam, começam a se machucar e destruir o ambiente – que, nesta analogia, sou eu mesma.
É por isso que as pessoas precisam de terapia. Falar é essencial para tirar essa multidão da sala. O desafio é organizar uma fila para que esses pensamentos saiam, um a um, de forma ordenada. Eles são desorganizados e teimosos, mas o esforço vale a pena.
Segundo a psicanálise é por meio da fala, que é dada ao paciente a oportunidade de se conectar com ideias recalcadas que produzem os sintomas. Assim, ele passa a ter uma nova compreensão desta memória. Supõe-se que, na medida em que o paciente mantém ideias recalcadas de eventos ligados ao passado, este passado torna-se presente, uma vez que é constantemente atualizado através dos sintomas. Quando a reação é reprimida, o afeto permanece ligado à lembrança e produz o sintoma. (fonte: A cura pela fala)
Pertence a paciente Anna O. a expressão “a cura pela fala” que empregou o termo “limpeza de chaminé” ao referir-se ao tratamento que lhe foi dado por meio da palavra.
Escrever é uma tentativa de organizar essa bagunça. No entanto, às vezes a confusão é tão grande que nem mesmo a ideia de manter uma newsletter dedicada a esses temas parece ajudar. Talvez a verdadeira loucura seja isso: uma sala tão cheia que explode, espalhando essas figuras pelo cérebro, causando comportamentos e palavras que nem mesmo eu consigo compreender.
Depósito de Dicas
NEWSLETTERS
Aqui estão algumas pessoas que escreveram muito melhor do que eu sobre “transbordamento” de sentimentos:
FILMES E SÉRIES
Assisti esse documentário recentemente e se teve algo que explodiu minha cabeça quando surgiu, foi o movimento Mangue Bit! Assistam, conheçam, escutem, ouçam, admirem e explodam suas mentes também!
Chico Science, Um Caranguejo Elétrico.
LIVROS
CÉREBRO, UMA BIOGRAFIA - David Eagleman
Antes que seu cérebro exploda, talvez seja importante você entender um pouco mais sobre ele. Esse livro é bem legal e didático sem ser chato.
Mais detalhes sobre minhas impressões de leitura no blog.
eu entendi e me identifiquei plenamente com a analogia da sala cheia de gente, desesperada pra sair em busca de ar. Nossa, me sinto assim inúmeras vezes. E a terapia ajuda mesmo, mas uma dica que a psicóloga me passou e ajudou MUITO foi pegar um papel e ir escrevendo, desenhando, riscando tudo que ia passando pela cabeça, não importando coerência, grafia, beleza, nada. Só pra tirar da cabeça mesmo. No começo achei que não ia rolar, achei até meio bobo, mas ajudou super!! Vale a tentativa!
É complicado, né véi! Kkkkk
Zueira...
Com certeza terapia é ótimo e todo mundo deveria fazer
Eu acho também que você organiza muito bem os seus pensamentos pra escrever aqui. A questão maior é a mente do ansioso que quer acelerar as coisas e acaba de atropelando, mas vai no seu tempo, se precisar mudar pra postagem de 15 em 15 dias, tudo bem. 1 vez por mês? Tudo bem também
O importante é você estar bem e isso aqui ainda ser uma coisa boa pra você 🫵🏽
Sabe que eu te amo né?