Todos sabemos que esse negócio de acompanhamento psiquiátrico nada mais é do que um grande esquema de apostas, uma espécie de Psicobet. O médico vai jogando os remédios para ver qual vai dar certo. Alguns têm a sorte de acertar na primeira tentativa, outros vão trocando de medicação como quem pula de vídeo em vídeo no TikTok. Digo isso com toda a licença poética que me é devida, afinal, sou uma fucking paciente psiquiátrica desde a juventude.
Pois bem, aqui estou eu, mais uma vez, jogando minhas moedas no tigrinho do Pinel, esperando que desta vez eu acerte no mais novo lançamento da indústria farmacêutica, aquele que promete transformar seu já tão fudido cérebro em massinha Play-Doh. Tudo isso na esperança de sentir um resquício de felicidade e calma nesta vida.
Sim, troquei de antidepressivo mais uma vez. Depois de peregrinar por vários “-inas”, estou agora me despedindo da desvenlafaxina para abraçar o novíssimo, multimodal, interestelar e possivelmente radioativo veneno de super-herói: vortioxetina.
Eu sei o que vocês estão pensando: meu cérebro vai virar geleia. E, sinceramente, eu também acho. Mas é isso ou o inferno na Terra, com um final em homenagem a Kurt Cobain ou Sylvia Plath. Então, bora de gelatina cerebral.
Assim sendo, a partir de agora, queridos leitores, vamos começar a ver as coisas de maneira mais otimista.
Agora sim minha vida vai mudar, eu vou ser feliz e positiva e essa newsletter vai se chamar depósito da gratidão. Vai vendo!
Eu nunca mais vou deixar de escrever porque meu cérebro está fritando com pensamentos intrusivos que não me deixam raciocinar direito.
Vou parar de reclamar compulsivamente sobre qualquer mini problema que aparecer na minha vida.
Vou ser uma pessoa solar, que sorri o tempo todo e ri de piadas sem graça e vídeos do Instagram que antes me fariam vomitar de vergonha da humanidade.
Darei conselhos assertivos e tentarei mostrar aos outros pobres infelizes, que provavelmente ainda não encontraram o antidepressivo certo, como a vida é maravilhosa e vale a pena ser vivida em sua plenitude.
Dançarei ao som de Katy Perry, vou gostar de sertanejo e aceitarei que as músicas da moda não são impulsionadas por interesses de grandes produtores, mas sim um presente para o povo brasileiro se divertir.
Vou assistir e ler as notícias fingindo me importar e até fazer posts em protesto a algum absurdo, mas no fundo não vou estar nem ligando porque serei uma pessoa feliz que não se abala nem com os piores acontecimentos do mundo.
Chegarei ao cúmulo da alegria gravando um vídeo trend no tiktok dançando e, quem sabe, cometa até o absurdo da vida perfeita que é fazer um vloguinho com a música da Corinne Bailey Rae.
Mas, pensando bem, é possível que esta newsletter até deixe de existir, porque finalmente me tornarei uma pessoa funcional e arranjarei um emprego de gente normal. Não terei mais tempo para essas besteiras de escrever, me expressar ou filosofar sobre a vida. Estarei ocupada servindo ao capitalismo como todo bom cidadão deve fazer, pelo menos enquanto o remédio atual estiver fazendo efeito.
Depósito de Dicas
NEWSLETTERS
Aqui está a melhor newsletter sobre remédio psiquiátrico que você vai ler hoje:
FILMES E SÉRIES
Eu só assisti esse filme porque estou tentando assistir à todos os filmes do Oscar e, em algum vídeo, o PH Santos falou que essa obra deveria ganhar o prêmio de trilha sonora. Eu nem sei se ele concorre à alguma estatueta, e até acho que não. Mas acabei assistindo e achei bem estranho, e como gosto de coisas diferentes, o negócio me pegou.
Só pra constar, eu também assisti CONCLAVE. Achei assistível mas não sei porque está concorrendo ao Oscar, sinceramente. O elenco é ótimo, mas achei a história meio boba e irrealista demais, minha opinião, os críticos aparentemente gostaram da obra. Para mim, a melhor parte é o final, porque tem uma surpresa e também porque acaba!
LIVROS
PLANETA ESTRANHO - Nathan W. Pyle
E foi assim que eu cheguei a conclusão que ficção de cura não é a solução para os meus problemas, e sim os quadrinhos! Peguei esse exemplar na biblioteca pública da cidade e desde então me sinto feliz. Ou será que é porque mudei de antidepressivo? Não importa. Esse livro foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida e desejo compartilhar com vocês essa fonte de felicidade: saibam mais aqui no meu diário de leitura.
Obrigada por ler Depósito de neuroses!!!
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Mas, se você for um pobre miserável como eu, pelo menos compartilha por aí, vai que algum mecenas resolva me ajudar.😉
Miss, eu ri, mas com respeito.
Que essa nova fase medicamentosa seja boa para você!!
Um beijo
Confesso que soltei boas risads lendo essa news, mas desejo sorte na sua caminhada com o novo remedio, essa semana tambem troquei a bendita desvenlafaxina e como é bom voltar a ser funcional (até quando so Deus sabe) <3